Comitê da Rio 2016 proíbe protestos em estádios durante Jogos

thumb (4)Os organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio apoiaram nesse domingo a decisão da polícia de deter torcedores que levantavam cartazes contra o presidente interino Michel Temer em estádios. “Estamos alertando o público de que este tipo de manifestações não estão permitidas dentro das instalações”, disse o porta-voz do comitê organizador Rio 2016, Mario Andrada, a jornalistas.

A Lei Nº 13.284, que dispõe sobre medidas relativas aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, traz no artigo 28, inciso X, a seguinte ordem relativa às condições para acesso e permanência nos locais oficiais: “Não utilizar bandeiras para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável”. Mas no parágrafo primeiro a lei coloca: “É ressalvado o direito constitucional ao livre exercício de manifestação e à plena liberdade de expressão em defesa da dignidade da pessoa humana”.

Em múltiplos incidentes desde a abertura dos Jogos, na sexta-feira, a polícia confiscou pequenos cartazes com a frase “Fora Temer”. Alguns destes casos consistem em uma folha de papel branco levantada em silêncio até a intervenção da polícia. Às vezes, o slogan aparece em um cartaz levantado atrás de uma câmera de televisão enquanto os jornalistas filmam nas ruas. Um homem que carregou a tocha olímpica na semana passada pintou as palavras em suas nádegas, e as revelou ao abaixar o short.

O voluntário Luís Moreira afirmou em uma rede social que decidiu abandonar o trabalho nos Jogos Olímpicos depois que pessoas foram retiradas de locais de jogos por conta das manifestações.

Outros apenas gritam “Fora Temer”, um grito de guerra que foi ouvido em massa na cerimônia de abertura dos Jogos, na sexta-feira no Maracanã, quando o presidente interino declarou abertos os Jogos em um breve pronunciamento. Temer, o ex-vice-presidente, assumiu a liderança do país em maio, quando a presidente Dilma Rousseff foi suspensa do cargo enquanto é julgada pelo Congresso por maquiar as contas públicas.

Dilma pode ser destituída no fim de agosto, apenas alguns dias depois do fim dos jogos. Com a crise política chegando ao clímax, os organizadores não conseguiram impedir que as tensões atingissem os Jogos Olímpicos. Em uma versão criativa do movimento anti-Temer, um grupo de pessoas na partida de futebol feminino entre Estados Unidos e França em Belo Horizonte no sábado se sentou em uma fileira com camisetas que juntas formavam as palavras “Fora Temer”.

Foram expulsas do estádio, informou o jornal Folha de São Paulo. O vídeo de outro incidente publicado nas redes sociais que acumulou quase dois milhões de visualizações mostra quatro policiais cercando e expulsando um manifestante de seu assento em um estádio.

Proibição olímpica aos protestos

A tolerância zero aos protestos pacíficos despertou indignação na esquerda e convocações a novas manifestações. “Inacreditável! Manifestar opinião agora dá prisão!”, disse a senadora Gleisi Hoffmann, do Partido dos Trabalhadores (PT). “Voltamos no tempo”, afirmou em um comentário no Facebook.

Mas as autoridades olímpicas disseram no domingo que slogans políticos estão proibidos nos estádios, de acordo com a Carta do Comitê Olímpico Internacional (COI), que diz que nenhum tipo de protesto está permitido. “Pede-se às pessoas que estão protestando politicamente em instalações (olímpicas) que não continuem fazendo isso, e se fizerem pede-se que saiam. Este é um templo do esporte e precisamos nos concentrar nisso”, disse Andrada.

Enquanto as críticas aumentavam, o ministério da Justiça divulgou um comunicado dizendo que as regras proíbem os espectadores de entrar com qualquer “item que possa prejudicar a competição”, e isso inclui “qualquer item com uma mensagem política, religiosa, racista, discriminatória, difamatória ou xenófoba”. Aparentemente em referência ao caso do homem que foi expulso do estádio por gritar “Fora Temer” em uma competição de tiro com arco, o ministério informou que ele estava “incomodando atletas e outros torcedores”.

Impopular e mais impopular

Desde que se tornou presidente interino, Temer nomeou um novo governo que se colocou claramente à direita da plataforma esquerdista de Dilma. Se ela for destituída, Temer governará até o fim de 2018. Dilma Rousseff e seus seguidores afirmam que Temer tramou um golpe contra ela.

As pesquisas mostram que Dilma é profundamente impopular e Temer é apenas um pouco melhor. A crise, à qual se soma a pior recessão em décadas, está criando um pano de fundo de revolta para uns Jogos Olímpicos que deveriam ser a festa de graduação do Brasil. “Os brasileiros estão muito insatisfeitos”, afirmou Fabiana Amaral, de 32 anos, ao visitar a pira olímpica situada no centro do Rio. “Qualquer pessoa que tivesse se sentado ali (durante a cerimônia de abertura) teria sido vaiada. Se fosse Dilma, não Temer, teria sido pior. Foi uma oportunidade para demonstrar nossa raiva”, explicou esta arquiteta.