Filha de fazendeiros de Mostardas é nomeada Chefe administrativa do Parque Nacional da Lagoa do Peixe

Maira Santos de Souza é a nova chefe do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Litoral Sul do Rio Grande do Sul. O parque é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Indicada pelo deputado federal gaúcho Alceu Moreira (MDB), Maira teve sua nomeação realizada no último sábado (13), pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em comunicado oficial. Moreira também é presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária.

O deputado afirmou que alguns nomes foram elencados a partir de uma demanda dos próprios produtores da região que pediram alguém de confiança para o cargo.

“Quando o ministro esteve na Lagoa do Peixe, ele conversou com os produtores que estavam lá em virtude de que o pessoal do ICMBio não acompanhou a audiência. E os produtores pediram que para poder fazer uma mediação correta precisava ser alguém da região”, justifica Moreira.

Maira acabou sendo a escolhida. A jovem de 25 anos é formada em Engenharia Agrônoma e filha de produtores rurais de Mostardas, município localizado no Litoral Norte gaúcho. Questionada por sua falta de experiência, Maira respondeu: “Sou formada em agronomia. Sempre trabalhei no meio rural, durante minha formação fiz estágio no Instituto Riograndense do Arroz. Digo com toda a certeza que ninguém mais que nós, produtores e pescadores, queremos e zelamos pelo nosso Parna [parque nacional] e região”, afirma.

O deputado diz que o parque foi criado de forma irregular, sem participação de moradores. Segundo o parlamentar, a unidade de conservação não conta com um plano de manejo e apenas parte dos moradores do entorno foram indenizados. Diante dessa situação, os produtores rurais defendem duas alternativas.

“Ou de continuar como parque e estabelecer um plano de manejo, e a utilização turística para ter retorno, já que a terra deles está sem valor, e eles não conseguem vender em virtude desse problema. Ou então uma decisão que eles querem transformar em área de preservação ambiental, porque aí o plano de manejo permite que eles possam utilizar a terra adequadamente”, detalha Moreira.

NOMEAÇÃO QUESTIONADA

A Associação Nacional dos Servidores Ambientais (Ascema), em nota, diz que a nomeação da jovem produtora rural viola os princípios de impessoalidade e moralidade na gestão pública.

O coordenador da rede de ONGs da Mata Atlântida, João de Deus Medeiros enalteceu a importância de alguém qualificado para comandar o Parque Nacional.

“Deixar de utilizar o pessoal capacitado? o ICMBio criou inclusive uma escola para formação, capacitação do pessoal exatamente nessa perspectiva. Colocar uma pessoa sem essa condição compromete essa finalidade. Se é uma pessoa que está vinculada a outros interesses que não o da conservação, obviamente o risco para a manutenção da efetividade desse espaço como um espaço protegido, começa a ficar sob ameaça”, analisa o pesquisador.

POLÊMICA

A gestão do Parque Nacional da Lagoa do Peixe está cercada de polêmicas desde que Ricardo Salles participou de um encontro com produtores locais na unidade em abril. No mesmo mês, o ministro mandou exonerar Fernando Weber, que chefiava o parque. O dirigente também era vinculado ao ICMBio.

Questionado, na ocasião, sobre as razões que levaram à demissão de Weber, Salles disse apenas que “cargo de confiança é prerrogativa do Executivo escolher”.

Antes de demissão de Weber, o então presidente do ICMBio, Adalberto Eberhard, já havia pedido exoneração do cargo após o ministro determinar a abertura de um processo administrativo contra funcionários do ICMBio do Rio Grande do Sul.

O anúncio de Salles foi feito na frente de Eberhard durante a visita do ministro à região.

O PARQUE

O Parque Nacional da Lagoa do Peixe é reconhecido internacionalmente como um santuário para centenas espécies de aves, que chegam em várias épocas do ano, vindas de países como Canadá, Estados Unidos, Chile e Argentina em grandes bandos, em busca de abrigo e alimentação.

Mais de 270 espécies de aves foram catalogadas ali. Algumas delas criticamente ameaçadas, como o maçarico-de-papo-vermelho, conhecido por migrar enormes distâncias entre os hemisférios Sul e Norte.

Foto: Geiser Trivelato