Polícia Civil indicia jovem que teve corpo marcado com suástica por falsa comunicação

A jovem que teve o corpo marcado por um símbolo semelhante a uma suástica nazista em Porto Alegre foi indiciada pela Polícia Civil por falsa comunicação de crime. Segundo o titular da 1ª Delegacia de Polícia, delegado Paulo Cesar Jardim, não houve motivação política no caso. Em boletim de ocorrência, a estudante, de 19 anos, disse que foi atacada por três homens no bairro Cidade Baixa. O inquérito está sendo agora remetido à Justiça.
Com base no laudo de 12 páginas do Departamento Médico Legal (DML) do Instituto-Geral de Perícias (IGP), o delegado Paulo Cesar Jardim foi categórico. “Temos um caso de autolesão. Há automutilação”, observou.
Segundo o delegado Paulo César Jardim, todas as hipóteses foram apuradas, sendo analisadas mais de duas horas de imagens de 12 câmeras de monitoramento na região. Segundo a Polícia, em nenhum momento a vítima e os agressores apareceram.
Comerciantes, flanelinhas e moradores da área foram ouvidos e “ninguém viu nada”. O titular da 1ª DP lembrou que a jovem disse ter levado socos até no rosto, mas ele recordou que não havia marcas e hematomas. A desconfiança de que o relato do ataque não seria verdadeiro teria sido confirmada com a chegada dos laudos periciais, inclusive dos resultados do exame no corpo da vítima.
Foto: Facebook / Reprodução / CP

 

Sobre o desenho da suástica feito em uma posição errada na barriga da jovem, o diretor do DML, perito médico-legista Luciano Haas, destacou que “o tipo de lesão encontrado não apresentava nenhum corte mais profundo” como seria esperado em um caso de agressão com objeto cortante. “Chegamos a conclusão da possibilidade dela ter feito essa lesão ou com ajuda de outro”, afirmou. “A lesão é leve e não penetrou profundamente. Ela foi muito simétrica e com 23 traços. Ela se assemelha a lesões autoinfligidas”, avaliou.
Com base na bibliografia internacional e no laudo, o perito médico-legista Luciano Haas entende que uma pessoa, mesmo imobilizada pelos agressores, teria se mexido devido à dor. “Não conseguiria ficar parada”, resumiu. Além da suástica, a jovem tinha outros cortes, sendo um na forma de uma cruz.
Para o delegado Paulo César Jardim, os grafismos correspondem a arranhões pois não transpassaram totalmente a pele e “teriam sido produzidos de forma bastante cuidadosa”. Para o titular da 1ª DP, as lesões na vítima “não são compatíveis com as que seriam esperadas na hipótese de ter havido efetiva resistência da parte dela à ação de um agente agressor”.
O laudo do IGP diz que “as lesões verificadas apresentam, portanto, características compatíveis com as de lesões autoinfligidas, embora não haja, a partir exclusivamente dos resultados do exame de corpo de delito, elemento de convicção para se afirmar que efetivamente foram autoprovocadas. Nesse sentido, pode afirmar-se que as lesões foram produzidas: ou pela própria vítima ou por outro indivíduo com o consentimento da vítima ou, pelo menos, ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em esboçar reação”.
De acordo com o trabalho pericial, quem fez os cortes teve “bastante habilidade e cuidado ao executar os movimentos que originaram as inscrições relatadas, bem como que ele tenha tido tempo adequado para produzir as lesões e, idealmente, um ambiente propício”.
O que diz a defesa
Defensora da jovem, a advogada Gabriela Souza, da Advocacia para Mulheres, emitiu nota oficial sobre o caso. “O teor do laudo assinado pelos peritos reafirma a convicção da defesa de que a jovem foi vítima de um ataque, conforme testemunhado por ela à Polícia Civil. Nota-se que a perícia não descarta a hipótese de as lesões terem sido causadas por outro indivíduo, inclusive mediante incapacidade de defesa da vítima. Isto apenas comprova o teor do depoimento da vítima, que não esboçou reação durante o ataque e sofreu estresse pós-traumático, situação que se mantém até o momento”, relata o documento.
“O laudo divulgado nesta quarta-feira não representa o fim das investigações; a defesa da vítima ainda espera que sejam apresentadas imagens de câmeras de segurança e ouvidos depoimentos de pessoas que prestaram auxílio à jovem atacada. Qualquer conclusão antes de esgotada a avaliação de todos os elementos possíveis é precipitada e pode não representar a realidade dos fatos. Em respeito à privacidade da vítima, neste momento a defesa não fará novas manifestações. A defesa confia na apuração verídica dos fatos e aguarda a conclusão das investigações para a comprovação da verdade dos fatos”, concluiu.

 

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